08:21 - Blumenau caiu! Não tivemos mais notícias de SC nem do Rio Grande do Sul...
Ficamos o final de semana inteiro sem internet, sem telefone e conseguiram bloquear até algumas estações do rádio amador. Foi a única forma de esconder da população o que estava por vir. Sábado de manhã militares bateram de porta em porta convencendo todos a irem com eles para as zonas de segurança. Da minha rua só não levaram nós e um casal de idosos que mora no fim do quarteirão, pelo que vi se negaram a abandonar a casa por motivos sentimentais e nós por motivos estratégicos. Fomos ameaçados e mesmo assim resistimos, na cabeça deles nos deixaram aqui para morrer, mal sabia eles o que os aguardava.
Minha casa como é a primeira do morro e consigo ter uma vista privilegiada de todas as ruas que nos cercam. Quando estava descendo o último carro militar em direção ao quartel aquelas coisas apareceram. O motorista do veiculo tentou atropelar dois infectados, mas aconteceu o que já era de se esperar, o estrago no motor decorrente ao choque com o corpo dos dois fez o carro parar e ficaram ali, como sardinhas em lata, esperando seu fim. Foi difícil, mas dei a ordem de que ninguém sairia dali para ajudar, não poderíamos por em risco a segurança de nosso grupo por causa deles e também não dispomos de rifles de longo alcance para tentar atirar dali mesmo. O que vimos foi algo muito pior do que qualquer filme, assistimos de camarote um verdadeiro banho de sangue. Foi difícil conseguirem quebrar os vidros do veiculo militar, mas infelizmente não foi impossível, assim que a primeira janela se estatelou um dos passageiros abriu a porta do lado contrário em uma tentativa desesperada de fugir. Mas já estavam cercados, ele trocou a segurança do carro pelas ruas, logo que saiu foi puxado para multidão, os outros que não estavam o devorando entraram pela porta e o que aconteceu a seguir prefiro nem descrever.
O carro está parado até agora ali na frente e pelo que vi nenhuma das pessoas que estavam lá dentro se transformou, provavelmente porque não sobrou nada deles. Isso foi no sábado, ontem a noite ocorreu um breve corte na energia elétrica, não sei ao certo o motivo, mas foi de grande ajuda para nós. Algum descuidado esqueceu de fechar o blackout de uma das janelas e a luz vinda de dentro estava atraindo alguns infectados para o portão, conseguimos então ver de perto a fisionomia deles. Pele acinzentada, olhos sem vida, cheios de feridas provavelmente as que os fizeram se transformar nessas coisas, alguns sem alguns membros, mordidas nas mãos e braços são as mais comuns, provavelmente uma última tentativa de se defender. Assim que a luz foi cortada ficamos na escuridão total, sem as câmeras de segurança tivemos que vigiar por nós mesmos, sem ter contato com eles é obvio, não queríamos chamar mais atenção do que já tínhamos chamado. Eles permaneceram no portão por algumas horas, até que um barulho atraiu a atenção deles, um tiro, vindo do final da rua. Veio da casa do senhor Farias, que se recusou a ir com o exército na manhã de sábado para a zona de segurança. Escutamos cinco estampidos, provavelmente um infectado conseguiu entrar na casa dele. Por um tempo não ouvimos mais nada até que um estampido fez início a um silencio eterno, será que esse último tiro foi nele mesmo?
A equipe queria ir até lá tentar resgatar ele, mas a essa altura a única coisa que veríamos era o velho com seus miolos espalhados pelo chão.
Foi perto das 6 da manhã de hoje que a luz retornou, junto com a internet. A TV a cabo está fora do ar e a local está passando a reprise de alguns programas antigos.
Agradeço a preocupação de todos comigo e com meu grupo, cada postagem a partir de agora poderá ser a última, não sei por quanto tempo mais teremos luz, internet e muito menos quanto tempo temos de vida. Só espero que todo nosso treinamento se faça presente agora. Ir para o sítio ficou fora de questão até o momento. A ida estava programada para sábado a noite, mas essas coisas chegaram antes do previsto e nos deixaram presos dentro da minha casa. Dei uma última olhada pela janela agora pouco, nenhum movimento no portão, mas ouvi alguns deles na rua de baixo, provavelmente perseguindo algum cachorro ou gato, o barulho que eles emitem é de enlouquecer, de traumatizar.
Caso eu consiga amanhã estarei de volta, agora temos muito que fazer e reforçar o portão será a primeira tarefa. Ainda temos muita água e comida estocada, pelo menos algumas semanas conseguimos sobreviver aqui dentro e se algum deles conseguir entrar no terreno... Azar o dele!
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